domingo, 6 de dezembro de 2009


ÚLTIMO


Preferia mesmo nunca ter visto a poeta
Preferia estar só
Abraçar os lençóis pensando numa trepada

Ontem
Mandei a poeta embora
Ela saiu como mulher
Carregando seu bloco de notas em branco

Ela não ameaçou se matar
Ela não disse que era louca por mim
Ela calou um poema inteiro

Depois de duas horas ela chegou meio bêbada

Jogou o caderno de notas sobre a cama
E disse que só voaria amanhã

Já é meio dia e não fui trabalhar
A poeta não acorda
Dormiu coberta esta noite
Não está mais nua

SEXTO


A poeta nunca deveria ter se entregado a mim
É difícil demais cuidar de poeta
Ora com asas
Ora sem

Mulher já dá trabalho demais!
Devia ter deixado a poeta solta
Pra ver só de vez em quando

Mas paixão pega a gente no laço
Achei que a vida com a poeta seria brilho
Carruagem
Vôo noturno
Alegria a não dar mais

Não era

A poeta tinha dias mulher
Dias anjo
Dias de olhar tudo com indiferença
Enlouquecida dizia que era só mulher
Não era poeta
Que queria olhar vitrine e fazer as unhas
Fazia boca de puta e pulava sobre mim como um gato

A poeta metia medo!

QUINTO


Desviando assunto um pouco
Não pago minhas contas há três meses

Água luz telefone

A poeta me enfraqueceu

Ela não tem contas faz poesia
A harmonia do universo paga as contas da poeta nua

A poesia é um bem valioso
Só tenho meu trabalho e meio quilo de feijão que sobrou da cesta básica

A poeta nua não entende isso
Sinto que me abandona porque eu sou um coitado que não lê poesia

A poeta nua é mulher e quer resguardo

Quer velas no jantar
Música romântica

A poeta nua é mulher.

QUARTO


Da minha vagina não sai sangue
Porque prenho poemas

Tenho sangue de gato nas veias
Viro morcego

A poeta nua trepava em mim com tanto vigor que eu ia explodir

A poeta não gozava nunca
Era mulher
 Mas meu gozo fácil era capaz de quebrar qualquer tabu
E fazer a poeta criar asas de tanto prazer

E as asas dela seriam verdes e feitas de fios de palmeira
E seu cheiro seria de um país que não vi
O mar teria medo dos mistérios de seu sexo

E ela repetiria versos em línguas indecifráveis cada vez que a minha língua penetrasse na sua boca e desenhasse os seus dentes

Me apaixonei pela poeta nua

Eu quero a poeta nua
A poeta


TERCEIRO

Terapia cognitivo comportamental
O médico mandou que eu verificasse o último andar do edifício
depois de me olhar com suspeita por mais de meia hora

Eu vi a poeta nua!!!- eu jurava.

No topo do edifício encontrei um band-aid
Um bloco de notas em branco
Coco de rato

Recolhi as evidências

A poeta estava lá!

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

SEGUNDO

No dia seguinte ao vôo da poeta nua
Procurei na imprensa uma noticia

Não havia nada além de assassinatos, assaltos, corrupção e notícias políticas

A poeta nua não saiu no jornal
Seu vôo inesperado
A chuva psicodélica
As entranhas que não existiam
Não foram notícia

Pensei que enlouquecia
Marquei consulta urgente

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

PRIMEIRO

Eu vi uma poeta nua
Numa nudez de palavras
Atravessando a cidade como um rato
Procurando esconderijos

Eu a vi nua e fresca num entardecer sem nuvens

Eu a vi desesperadamente solitária

A poeta nua despencou do vigésimo andar de um condomínio
Criando asas num instante

A poeta atravessou o céu entrecortando helicópteros de metal fosco

A poeta brilhava magnífica e abria as pernas
Para que todos pudessem admirar suas entranhas

A poeta não tinha entranhas
Mas os seios da poeta eram fartos
Os seios da poeta eram de matriz
E deles chovia um liquido impressionantemente mágico

De repente o transito parou para deixar as sirenes passarem

Mas a poeta nua
A poeta
Nua
Pousou sobre o mais alto edifício
E riu de achar graça!